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DOIS DISCURSOS DE IR ÀS LÁGRIMAS

Acabo de comentar os discursos de abertura da Conferência de Segurança de Munique, na RTP3, e partilho as minhas primeiras impressões.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, consciente da vulnerabilidade e impotência da UE, acaba de fazer um discurso tão apaziguador quanto confrangedor, humilhando-se por antecipação (face ao discurso de JD Vance que se seguiria). Só por um instante Leyen ousa falar nos riscos que representam “os autoritários deste mundo”, sempre à espera da “fraqueza dos seus vizinhos” para os invadirem. Quem quisesse, pensando no Panamá, Canadá ou Gronelândia, bem podia incluir também Trump nessa subtil análise. Mas só se quisesse.

De resto, von der Leyen anuncia de forma enviesada a suspensão dos limites de défice/endividamento dos países da UE – se for para “investir maciçamente em pacotes militares”, não especificando se terão de ser tudo armas compradas aos EUA (ainda ontem a Índia comprometeu-se a comprar mais armas, mais gás e petróleo aos EUA para evitar taxas sobre as suas exportações). Do gás já von der Leyen tem falado noutras ocasiões (temos de comprar mais, diz, aos EUA, claro).

JD VANCE

Depois falou o vice-presidente dos EUA durante quase 20 minutos e foi muito embaraçoso. Falou zero da guerra na Ucrânia ou das negociações em curso entre Washington e Moscovo. Essas, de qualquer forma, excluem a União Europeia. Mas foi paternalista, pastoral e prepotente. Falou, todo o tempo, nas falhas da UE em respeitar os valores cristãos e dos EUA. Enalteceu os partidos de extrema-direita europeus que estarão a ser censurados na Europa, na decadência moral e de valores na Europa, do caso dum homem que no Reino Unido foi proibido de rezar ao pé de uma clínica, “onde se faziam abortos e estavam a matar o seu filho” (cito de memória), dos riscos da imigração em massa, claro, citou João Paulo II. Só lhe faltou benzer a plateia.

É uma homem inteligente que ainda há um ano e meio chamava a Trump “o Hitler da América”, o mesmo Trump que neste momento está a dividir a Ucrânia com Putin. É a história da partilha da Europa a repetir-se, primeiro como tragédia, há 85 anos, e agora, outra vez como tragédia (sobretudo para a União Europeia e para aquilo que restar da Ucrânia). É a afirmação da lei absoluta dos mais fortes, os EUA e a Rússia, e Vance usou mesmo a frase “Há um novo xerife na cidade”. A cosmética democrática é limpa da cara com a manga do braço, a mão do tirano segura o revolver.

Nota 1: desculpem as gralhas, tudo escrito à pressa e sem revisão

Nota 2: no meu post anterior publiquei uma crónica e escrevi:

“Este texto é um excerto do livro de crónicas A CASA DA MULHER INGRATA (Miguel Szymanski, Oxalá Editora, 2021). Quem quiser apoiar o meu trabalho, pode ir a uma livraria ou encomendar os meus livros online. Os últimos três, entre a colectânea de crónicas, a biografia histórica e o romance policial, estão aqui nesta página.”

O link não levava a lado nenhum. Espero que agora funcione. OS MEUS LIVROS – SZY NEWS